quarta-feira, 22 de setembro de 2010

O TEMPO


O tempo dita as regras. Feliz daquele que teve tempo para amar antes de perder o grande amor. O tempo unificou o amor e ao mesmo tempo fez o apaixonado ficar só com o que restou.
Tempo para quem não tem tempo. Muito trabalho para quem luta contra o tempo. A família e as crianças que esperam tempo. O tempo se foi com o vento e você perdeu a oportunidade de mais uma vez pedir perdão. Mas o tempo vai e volta, ele fecha umas e abri outras portas.
O tempo fez o afoito se acalmar. O mendigo na rua só queria que o tempo passasse rápido antes dele congelar. O tempo para a criança que se diverte é pouco, o tempo para quem sente fome é muito. Esse é o tempo, não tem como controlar, mas dentro dele, você pode se encontrar.

FOGO

Acendeu, tocou fogo, nem tudo está perdido. O fogo queimou o índio e aqueceu o mendigo. O usuário de drogas mete fogo na bomba e depois alucinado assalta, mata, no outro dia não se lembra de nada. O fogo alastrou pela favela, queimou mais de 100 barracos, várias famílias, agora, jogadas a própria sorte e dependendo do estado. O fogo no cachimbo clareou os olhos do menino sem esperança usando crack no centro da Capital Federal. O fogo chegou perto, mas não atingiu o Congresso, era o fogo queimando as bandeiras dos sem terra que faziam protesto.  O fogo queimou o livro do menino que via neles a única saída para o seu futuro quase destruído. Políticos corruptos ascendem o fogo na lareira, comemoram vitória, desvio, milhões na carteira. Fogos de artifício, comemoração, final de campeonato, time campeão. Pega fogo na panela, hoje tem comida quentinha e pelo menos hoje, ninguém passa fome no barraco da dona Maria. O fogo mata e alivia. Destrói e trás vida. Aquece e apodrece, ele faz parte da vida.

Bebê


Bebê bebeu e amanheceu bêbado.
Bebeu de novo e esqueceu
que tinha que nascer.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

PRISÃO

Prisão, revolta, dor. Sem liberdade cria ódio, rancor. Não vive, sobrevive. Não fala, escolhe as palavras. Cuidado, é preciso. Se confiar em alguém, corre risco, se não confiar pode estar perdido. O pensamento é o melhor aliado. Pega o lápis, pega a folha, começa a escrever. As palavras o libertam, uma folha se vai e outras tantas a dizer.

PASSOU

Pensei que fosse o vento;
Amei sem ter beijado;
De muitas que se foram
Só restaram os retratos.
Menina que me iludiu
O que você quis fazer
Quem estave comigo
Nunca foi você.

OLHOS

Olhos verdes, azuis da cor do mar, castanhos, pretos, em qualquer lugar. O olhar da criança entristecida, dia 12 de outubro não teve presente da família. O olhar do policial observa o infrator e esse mesmo policial é observado pelo corregedor. O político com os olhos escancarados ver quanto dinheiro tem sem muito trabalho. O olhar do menino no farol que não pedi esmola, mas a oportunidade de também ter o seu lugar ao sol. Os olhos que não enxergam vão além da imaginação. Olhos secos com raiva, frio, sem compaixão.  O olhar que mostra a melhor direção, também é capaz de levar a perdição. Pare, observe o quão bonito é o lugar que você só sente falta quando não tem para onde olhar.  O olhar do empregador aprovou e depois desaprovou aquele outro só pela cor. O olhar sempre fala, mesmo que não seja em palavras.

sexta-feira, 30 de julho de 2010

PEQUENO ANDARILHO

Pequeno e já andarilho.
Fugiu da escola, da família, do cinto.
Revoltado diz não mais querer voltar.
Traumatizado, fez das ruas seu novo lar.
Futuro como muitos já traçado.
Revolta, drogas, crime, estatística para o estado.
Só queria ser feliz com a família,
não aguentou apanhar dia e noite, noite e dia.
Agora o pequeno andarilho segue a estrada,
os passos são curtos e longa a caminhada.

O FINANCIADOR

Pensou, falou, não agradou.
O rico faz passeata contra as drogas,
mas se esquece que ele é o principal financiador.
No pé do morro estaciona o carrão, o patrão chegou.
Atrás, outro carrão, agora do consumidor.
Corre... Polícia!
Preso, só o menino de bermuda e chinelo.
Enquanto isso,
o financiador vive tranquilo na alta sociedade fazendo discurso bonito e pedindo paz.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

AS GRADES

As grades de ferro foram abertas. O verdadeiro guerreiro vai entrar e sair de cabeça erguida. Abaixar a cabeça?! Para que sonhador? Todo mundo erra. O importante é aprender com erro para que não erre novamente. Você agora tem outro endereço. A grade é de ferro e vai ter sempre alguém te vigiando. Do lado de fora, só restaram seus familiares que estão sempre pensando e orando por você, mais ninguém. Não se culpe. Sonhe. Os pensamentos não estão acorrentados. Não se deixe abater, seja forte. Um dia o pesadelo vai passar e você terá outra chance de recomeçar. A sociedade julga, mas não sabe que ela também tem sua culpa. Joga o menino pequeno na lama, depois faz pouco caso com os seus pedidos de ajuda. Falou guerreiro. Quando o trem passar, não se esqueça, entre. O velho trilho, aos poucos, vai ficando para trás, para dar espaço a outros trilhos a serem seguidos.

http://www.youtube.com/watch?v=qvFoyzwQyJs

Educação, a melhor forma de reabilitação

Quem passa pelo CAJE (Centro de Atendimento Juvenil Especializado) ver muros altos e arames farpados cobrindo todo o centro. Agentes prisionais vigiam para que nada fuja dos seus olhos. O CAJE funciona como Centro de Reabilitação de Menores Infratores, meninos que cometeram crimes e pagam suas penas de forma mais humanizada, ou, pelo menos, deveria ser assim.
A antiga FEBEM, hoje Fundação Casa, outro reformatório para menores, não era só mais um centro de reabilitação, mas era uma verdadeira escola do crime. Os adolescentes eram maltratados, agredidos e o método de reabilitação não funcionava. Além da falta de infraestrutura e profissionais sem qualificação. Muitos saiam mais revoltados e sempre voltavam para a vida do crime.
No Paraná tem o Centro de Sócio Educação de Ponta Grossa, que serve de modelo para os demais estados. Se faz por lá um investimento em educação. Educadores humanizam e promovem a reinserção dos jovens a sociedade com trabalhos voltados para arte, música, educação e esportes.
É necessário que se faça uma política voltada para o social e psicológico desses menores infratores. Colocando-os em muros altos, cercados de arame não resolve o problema. Atividades que envolvam esportes, educação e cursos profissionalizantes são imprescindíveis nesses centros de reabilitação. O jovem precisa ter uma perspectiva de vida ao sair dali. É necessário oferecer opções para que esses jovens ao sair possam escolher a melhor. Seja uma profissão, um curso e algo que possa mantê-los longe do crime e devolve-los de forma mais humanizada a sociedade.

Brasília de outra vista

Oscar Niemeyer desenhou, Juscelino começou, Brasília capital da esperança levantou. 50 anos depois quem diria, Juscelino deve estar revoltado com tanta hipocrisia, roubalheira e humilhação. O povo sofre, enquanto o político mete a mão. O trânsito tá um caos, em horário de pico tá insuportável, a capital incha por todos os lados, seja nas satélites, nas asas, nos eixos e nos lagos.
A rodoviária deveria servir de modelo, afinal, está na capital. Mas tá mais pra Cracolândia no centro do poder. Tem traficante, viciado, prostituta, mendigo e a população que passa por ela e que convive com tudo isso. É melhor até andar com uma moeda no bolso, porque lá tem sempre gente pedindo um pouco.
Perto da rodoviária se tem outra visão nem parece que é a mesma população. O Congresso, o Planalto, com toda sua formosura, mostra a verdadeira capital sem lisura. A cidade de outra vista fica mais bonita, mas por pouco tempo, é só você anda um pouquinho que se tem outra estatística. 
Depois de Juscelino tantos outros vieram. Teve um que saio distribuindo casa, barraco pra tudo que é sem teto. Depois entrou outro que colocou ordem na desorganização. Derrubou lotes irregulares, acabou com a pirataria, deu um novo rumo para a população. Estava bom de mais para ser verdade, o político que combatia a corrupção foi pego roubando e parou atrás das grades. Parece piada, mas aconteceu, enfim, a justiça prevaleceu.  Se Juscelino soubesse o que eles queriam, até intervenção se pensou neste dia. Estamos em ano de eleição, que o povo faça do seu voto, uma nova renovação.


Político ladrão

Olha lá! Deu de novo no noticiário: mais um esquema de políticos ladrões, milhões sendo roubados. Corruptos, corruptores, uma corja de ladrões travestidos de doutores. Políticos roubam, roubam e o máximo que pagam é ter a dor de cabeça de ver seu nome citado num jornal. Depois se escondem até a poeira abaixar, aí dão a cara de novo para o povo esquecido enganar.  Quer ganhar dinheiro fácil? É só virar político. Trabalha pouco e ainda tem um monte de benefícios. Carro com motorista e muito dinheiro para gastar. Até apartamento tem para morar. É só saber roubar, tem que ser no sapatinho, dá propina pra quem descobrir e guardar um pouquinho. Se roubar direitinho vai ganhar muito dinheiro. Dá pra comprar um carrão e fazer várias viagens de cruzeiro. Se for muito esperto, faça como o Edmar, que construiu um castelo só pra ele morar.

http://www.youtube.com/watch?v=92ut6UFjbmc&feature=related

A visão da burguesa

O sol já nasceu na periferia. A burguesa disse que prefere a noite, pois o escuro esconde a favela. Se ela fosse pelo menos lá conhecer, teria ter uma visão mais bela. Gente de todo tipo anda por lá, não é só bandido não, dona. Tem gente honesta e de todo lugar. Tem baiano, mineiro, cearense, maranhece e carioca nato. Tem pedreiro, empregada, costureira e até empresário. Viver na favela é sentir o calor humano. A burguesa critica por não conhecer nossos planos e sonhos. Um dia ela vai ouvir falar daquele favelado que ganhou o mundo e é bem sucedido. Por trás, uma linda história de superação, amor e desafios. Se quiser conhecer, chegue mais, será bem vinda. A outra história da favela também pode ser linda. Não é só crime e bandido que faz parte da estatística, a visão pode ser mais bela, vista de outra vista. 

http://www.youtube.com/watch?v=UdL5ijOLZpM&feature=channel 

A lente

Daqui de cima é linda a visão: vejo o mar, os grandes prédios. A movimentação das pessoas deixa a cidade mais esbelta. As crianças brincam com seus brinquedos de última geração. O pai deixa os filhos na praia. A cidade passa a ter vida própria. A bela moça anda com o seu corpo em um pequeno biquíni, sendo admirada por muitos que contemplam o seu desfile. O garoto solta pipa enquanto o pai joga bola. Todos se divertem e brincam sem preocupação, quebrando a rotina do dia, com um pouco de diversão. Viro um pouco mais, a procura de outra paisagem e tenho outra visão. Será que é a mesma cidade ou só foi ilusão? É a pura realidade. Bem perto dali, vejo um menino procurando comida no lixo. Uma moça sentada na calçada fuma em uma espécie de cachimbo. Outro menino, descalço e sujo vigia carro. A polícia para um e bate em outro ao lado. Será que são as mesmas pessoas em mundos diferentes ou apenas está embaçada a minha lente? Não. É a dura realidade. As pessoas estão na mesma cidade, mas separadas por classes.

http://www.youtube.com/watch?v=ryVYp_4JTgs&feature=channel 

Decida

O tempo passou, a história mudou, o viajante sentou e um pouco pensou: a estrada é longa, o caminho é curto. O que virá a frente ainda é obscuro. Os testes falham, pessoas morrem. Vidas são salvas, outras ninguém socorre. Não entenda, reflita.  Não faça aborto, comemore a vida. Quer sentar, conversar, fique a vontade. Fale sobre tudo, comente o passado, viva o presente, mas com cuidado. Veja o suor no rosto do viajante. Será que você já fez tudo, o suficiente, o bastante. O ônibus para, você pode descer, seguir outro rumo ou estacionar e deixar a vida acontecer.  Decida.